Manual para se tornar
um (pseudo) cult
Tornou-se um fato, a moda agora é ser cult. O problema é que a maioria das pessoas não consegue e no máximo chega a ser um pseudo cult. É algo que vai do norte ao sul do país e do mundo. Todos querem ser admiradores dos filmes vanguardistas-experimentais-setentistas do Godard e amantes da literatura introspectiva-niilista-pós-modernista de Clarice Lispector, afinal, para ser um cult, você precisa ter conteúdo cult. O problema é que adquirir cultura é cansativo, você tem que ler, estudar, se envolver com gente cult... por isso, para poupar pretendentes a serem cults que não sabem por onde começar, trago para vocês o Manual de Como Ser (Pseudo) Cult. Com pequenos passos que podem ser seguidos até pelos amantes da Mulher Melancia e dançarinas do Créu, vou ensinar você leitor esperto a como carregar o título de cult, ou alternativo, ou underground, ou indie, ou o que você quiser:
Passo 1 –
Tenha grana e tempo sobrando
Lógico que
você NUNCA vai admitir isso, afinal, você não vai ter a grana na verdade, pois
você vai ser sustentado pelos pais ou por aquela vó aposentada pelo TSE que
ganha uma nota e só tem o querido netinho pra corujar. Enfim, a grana não é
sua, mas você gasta. E gaste bem, com livros, filmes, ingressos para o teatro,
bandas de garagem. Carro? So se for usado e surrado. Ou como você vai poder
levantar a bandeira do preço alto para os eventos culturais em frente ao teatro
municipal se você tem um Corolla esperando na saída? Com a grana, você não
precisa se prender a coisas nada culturais como trabalho com carteira assinada,
faça no máximo uma faculdade voltada para artes, comunicação ou sociologia
(Filosofia, Música, Artes Cênicas, Letras, Jornalismo, Publicidade e Propaganda
dão status, mas Ciências Sociais é a top). E com o tempo livre sempre se
dedique a programas alternativos, bares undergrounds, cinema de artes, sebos
(livraria é coisa de rico) e por aí vai.
Passo 2 –
Seja sempre a frente do seu tempo
Arthur
Rimbaud é um dos poetas franceses que mais marcaram o mundo (mais pela sua vida
gay es-cân-da-lo-sa, do que pelo seu trabalho, enfim...). Sua obra é
considerado sempre “a frente do seu tempo” (ou seja, ele morreu pobre pra ser
reconhecido depois). Logo, se você deseja ser conhecido como alguém cult, você
tem que ser moderninho e transgressor total. Defenda sempre idéias com um fevor
absurdo, suba em cima da mesa, tenha o dom da oralidade, saiba chamar a atenção
de todos para o seu redor. Torne-se um incompreendido (mas no campo das idéias
sociais, não vem com nada emocional não ou tu vai ser considerado emo e não
cult).
Passo 3 –
Tenha estilo
Você
acompanha o Fashion Rio? Então você não é culto. Você acompanha o São Paulo
Fashion Week? Então você é culto só se for pra estudar tendências de
comportamento e diversidade capitalista . A sua pose tem que ser inabalada.
Você não pode ser escandaloso (ou vai ser bixa louca), mas você tem que saber
chamar a atenção, principalmente quando você esta explicando porque aquele
filme é uma droga e você prefere o livro (que você não leu). Fume muito
Marlboro, Golden Gate, Gudang Garam, mas Free, Carlton e Master não pode. Só
beba destiladas, Absolut comanda (mas compre-a em grupo, NUNCA só você, é coisa
de burguês), vinho também, principalmente em sarais. Tenha sempre aquele ar de
esnobe, aquela pose blasé, cuidado com a gesticulação, desmunhecar pode, falar arrastado
pode, usar gírias em inglês pode, em português NUNCA. Sempre critique quase
tudo, principalmente em espetáculos, mas quando demonstrar que gostou de algo,
bata palmas sempre de um jeito que o difira do resto da multidão, quase
psicodélico, de preferência com o cigarro na boca, gritinhos e assobios, sempre
mantendo a pose de esnobe.
Passo 4 –
Saiba vender a sua imagem
Saiu com
os amigos para um café sem açúcar? Então ocupe uma cadeira só com sua bolsa de
tiracolo (NUNCA use mochila, mochila é coisa de universitário que tem estágio),
e sua bolsa tem que ser grande, mas nunca o suficiente para você, e cheia de
buttons personalizados. Sempre deixe a sua edição da Bravo!, Caros Amigos e
Carta Capital a mostra. NUNCA use roupas de marca. Sempre prefira blusas
listradas (preto/vermelho ou preto/branco) jeans surrados ou bermudas, além do
óculos de armação grossa preta ou branca e o All Star que pode ser qualquer
modelo contanto que seja All Star, pulserinhas artesanais também dão um toque.
Cabelo grande bagunçado (tipo Arctic and Monkeys) para meninos e cabelo preto
escuro curto ou ondulado (tipo Karine Alexandrino) para meninas. Sempre domine
as conversas, principalmente depois de filmes alternativos ou peças
patrocinadas pela Lei de Incentivo a Cultura, mostrando seu conhecimento de
caso.
Passo 5 –
Morte ao POP
Você não
assiste rede Globo porque ela “manipula, distorce os fatos, aliena e lança
musicas como Créu em nível nacional”. Séries de sucesso como Heroes e 24 Horas
devem ser evitadas ao extremo, de Lost você deve gostar apenas da primeira
temporada. Você não escuta rádio, só podcast’s especializados. Cinemark NUNCA.
Porque só passa blockbusters comerciais Hollywoodianos. Nada de livros do Harry
Potter, tire a fantasia da sua vida, exceto O Senhor dos Anéis e a primeira
trilogia (feita) de Star Wars, mas nada de fanatismo e cosplays. Sempre tenha
jazz no seu MP3, mas ele não pode ser da Apple. E sempre esteja ligado a
iniciativa científica (essa bem menos), aos coletivos culturais, selos
independentes, cenário underground e o mesmo do gênero. NUNCA concorde com o
que todos concordam. Gente culta tem sempre opinião própria (é do contra).
Esse é um
Passo a Passo de ficção, mas qualquer semelhança com a realidade não é mera
coincidência.
E para
aqueles que querem ser cults e pseudo intelectuais na área do cinema, fica aqui
o ótimo vídeo passo-a-passo "Como fazer umcurta-metragem
experimental, cult e pseudo-intelectual".
texto
retirado do site "http://gritoacreano.blogspot.com.br/
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